sábado, 19 de fevereiro de 2011

Silent Woods - O Chalé

O ar viciado dessa casa quente já fazia parte de mim como se estivesse sempre dentro de meus pulmões. Não preciso respirar mais, esse ambiente sou eu, introspectar-me é inócuo. A mobília morta é meu organismo e as paredes miseráveis a pele que me protege do exterior. A alma é a soma de tudo isso. Sólida feito a madeira que apodrece. Cansada feito as dobradiças que rangem. Presa feito as estacas que sustentam esse lugar.

Canso-me as vezes de estar em mim. Desencarno e saio pela porta que me expele para o mundo exterior. Saio do calor do meu corpo a procura de outros errantes que assim como eu estão vagueando pelo escuro, curiosos e aflitos.

Aqui fora tudo é frio, escuro, neblinoso, amedrontador. Apenas alguns postes de luz servem como orientação de qual caminho seguir para não se deixar seduzir pelo oculto. O alheio é misterioso e dai provém seu perigo. Pode ser que ele ataque e então será tarde demais para correr de volta para o lugar que insistimos em abandonar todas as noites. Nesse sonho coletivo somos a expressão do que esta nos nossos lares. Desde a característica marcante até o filigrama que ignoramos. Na verdade o porão que define como será o resto da casa. Nele o passado é guardado em baús esquecidos gritadores de prantos que ecoam dando forma aos ambientes que associamos como nosso verdadeiro habitat.

As vezes é emocionante ver outras almas que se parecem com você. Perdidas como você. Famintas como você. Saciar a angustia por alguém que invada sua casa, sua alma. Arrombar a porta e explore tudo que está por dentro. Ver aquilo que você esconde por trás da fachada. Mudar tudo de lugar e fazer de um ambiente novo com ares novos.

Nessa floresta encontrar outros residentes não é muito comum. Existem muitas bestas, vermes e insetos mas seres como eu são poucos. Ao encontrar um todo cuidado é pouco. Se não quiser que fuja o melhor a se fazer é prendelos como se prende os bois, mas não pelos chifres e sim pelas palavras. Não espere muito deles, não são capazes de atender a todas as expectativas.



No mais volto para o chalé para me preservar do limbo.

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