domingo, 20 de fevereiro de 2011

Silent Woods - Lost Streets

A fumaça brotava e ficava para trás. Encolhia-me em minhas vestes negras para fugir das laminas gélidas que passavam vagarosamente. A escuridão vencia os pontos de luz ao longo do caminho traiçoeiro e abandonado. Nenhuma alma se atrevia a estar ali. Caminhava ignorando os temores do vazio e os monstros mentais à espreita. Os olhos cegos dos edifícios eram estáticos. Tudo era muito familiar como se eu houvesse projetado aquela cidade de sombras.

Ignorava o meu destino. Apareci ali desconhecendo as circunstâncias anteriores. Caminhava apenas a passos lentos. Indiferente. Não queria perguntar o porque, nem o onde. Era um elemento daquele cenário, tinha meu papel.

Uma luz surge em meio ao escuro denso das lojas abandonadas. Quem? Ou melhor, o que? Sigo agora com o andar confiante de quem vai a um compromisso. Quero acreditar que estão a minha espera, que serei aplaudido de pé por minha audiência. A solidão então para, deixo-a para trás. Agora que estou realmente sozinho tenho lugar para outra companhia.

O lugar era uma espécie de bar. Pub, sim, essa é a nomenclatura correta. A vidraça empoeirada apartava o interior da realidade externa. Era desconhecido para mim o que repousava no interior. Meu compromisso era inadiável, eu precisava entrar. Girei a maçaneta dourada em estilo art-noveau e um aroma de mofo e tabaco invadiu meus pulmões. A atmosfera daquele lugar tomou conta de mim. Varias mesas enfileiradas junto à parede e um balcão em madeira sucupira. Alguns quadros medonhos e apenas um dos lustres que ficavam sobre as mesas estava aceso. Sob esse estavam dois vultos que me eram familiares.

O passado doloroso apareceu como uma entidade invocada. Exorcisei-o. Não queria mais ter contato com aquele ser demoniaco que me assombrou por tanto tempo. Aproximei-me. Não conseguia vê-los mas suas vozes vinham a mim. Afeto, o sentimento predominante. Mesmo sabendo que os fantasmas da traição se travestem para enganar seus atormentados prossegui naquele diálogo. Era excitante ser relevado por aqueles seres que para mim eram como uma folha em branco. Eu podia fazer o desenho que me fosse conveniente. Porém se a realidade não fosse retratada poderia ser que ficasse vunerável. Não, quero os pintar como são ou piores que são. Preciso me blindar contra maldições do passado.

Um deles desapareceu em meio a fina neblina. A outra continuou comigo. Explicou-me sobre o desaparecido. Concordou, contou e ouviu. Não sou tão mal desenhista quando estou menos passional. Comecei a gostar daquele vulto que eu ignorava qual era sua real identidade.

Despedi-me com um beijo, era hora de partir. Logo após fechar a porta acendi novamente minha fumaça e uma voz me disse: " pise com cuidado nos ladrilhos certos". Desta vez darei ouvidos a ela, não quero me arrepender no futuro.

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